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sexta-feira, 4 de maio de 2012


NÓS, PROFESSORES DO ESTADO, SOMOS TODOS BANDIDOS!

Quando ocorre um sequestro em cárcere privado é natural que a polícia envolvida no processo de negociação, depois de exauridas todas as formas de negociações, comece a privar ou suspender os elementos que garantem a sobrevivência humana.  Corta-se o fornecimento de energia e de água e evita-se a entrega de alimentos. Com isso, tenta-se vencer os bandidos pelo cansaço e pela perda gradativa dos sinais vitais humanos.

 É, sem dúvida, uma forma radical para se obter êxito em uma diligência policial desse tipo. Mas é um mal necessário. Existiria alguma outra estratégia policial para tais situações? Dados históricos mostram que não. Não existe outra forma alvissareira para lidar com tais bandidos!

 Hoje, nós, professores da rede estadual de ensino da Bahia, recebemos o mesmo tratamento dado a bandidos de alta periculosidade quando envolvidos em sequestro em cárcere privado.   O governo coloca em ação contra os professores a mesma tática policial: o corte do salário, que representa o corte da nossa alimentação (em breve, não teremos mais como comprar alimentos);   e representa também  o corte da energia elétrica e da água (em breve, não teremos   mais  como pagar  as  contas desses  serviços).

 É a tática do governo e dos deputados aliados a ele: tratar os professores como bandidos!  Não! Pior que bandidos!   Basta lembrarmos dos casos  graves de sequestros  ocorridos  no país  ou pelo mundo:   antes  do corte  dos direitos fundamentais da sobrevivência humana, há um longo e constante  processo de negociação, várias tentativas de acordo são feitas até que, não tendo mais possibilidades, decreta-se a privação.

No caso nosso foi pior: não houve negociação. Esta é a vil e ferrenha ação do governo estadual para vencer a nossa categoria.  Querem vencer-nos pelo cansaço, pela perda dos nossos sinais vitais e de nossas consciências. Certamente, acham que pela inanição e pela privação dos direitos sagrados de sobrevivência nós voltaremos à nossa faina diária com as mãos abanando.

 Hoje, aos olhos dos nossos governantes, somos bandidos. Que crime cometemos? Lutar pela garantia de um direito que teimam em negar à nossa categoria. Lutar pela qualidade do sistema de educação pública estadual. Esses são os nossos “crimes”!

 A que ponto chegou! Veja como estamos sendo vilipendiados, achincalhados pelo Estado. Agora estão privando-nos dos direitos fundamentais de sobrevivência! É tempo de reflexão. Até quando vamos aguentar tudo isso?

 O fragmento do poema de Eduardo Alves Costa é hoje muito real à nossa realidade. E serve-nos também para essa reflexão.

“Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.”


Vitória da Conquista, 03 de maio de 2012.

5 comentários:

Luciene disse...

Aguentaremos até o fim. Nossa dignidade é maior que as privações e acusações a nós impostas injustamente.

Juliana Brito disse...

O poema é de "Maikovsky" e está sempre martelando na minha cabeça quando penso em não me pronunciar sobre o que me causa indignação.
Já roubaram muito, já pisaram em várias flores do meu jardim, mas não deixarei que roubem a minha voz, quanto as flores, já as podei e adubei,por certo elas florescerão novamente.

Luciene disse...

O poema é "No Caminho com Maiakovski", de Eduardo Alves da Costa.

Juliana Brito disse...

Eduardo Alves da Costa exprimiu um sentimento tão próximo a cada um de nós que se confunde com nosso próprio discurso. É o poeta fingidor, como disse Fernando Pessoa. Aprendi mais uma hoje. No caminho com poetas conhecidos ou desconhecidos sigamos vigiando o nosso jardim. A luta continua.
Obrigada Luciene.

Luciene disse...

Não há de quê, Juliana. Por muito tempo, eu pensei que o poema fosse de Maiakovski. Há pouco tempo, fiquei sabendo que o autor era outro. A luta deve continuar.

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