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sexta-feira, 27 de julho de 2012



SOBRE PROFESSORES, CRIANÇAS, VILÕES E HERÓIS


Por: Caio César
         Hoje, ao sair do cinema, depois de assistir ao filme O Espetacular Homem Aranha, fui tomado por um súbito sentimento de esperança, mas também por um corrosivo desejo de justiça. O Homem-Aranha é um herói que marcou minha imaginação desde tenra idade. O poder de lançar teias através de arranha-céus e casas, a habilidade acrobática de driblar os inimigos e o senso selvagem de praticar a justiça, fisgou-me. Os heróis têm uma grande facilidade de penetrar o sentimento das crianças e, por meio deles, aprendemos que os vilões e suas maldades devem ser combatidos.

            Nossos pais também são como heróis e com eles acolhemos os principais exemplos para pautar nossas condutas. Como primeiros professores, ensinam-nos o ABC da vida. Pais e mães de boas índoles educam os filhos para a vida em sociedade, estabelecendo parâmetros e limites em torno dos quais os futuros cidadãos deverão atuar em prol de um futuro esperançoso.

      Todos, um dia, já foram crianças e, certamente, lembram dos bons tempos de brincadeiras e alegrias. Todos lembram e ainda carregam em algum lugar dentro de si a inocência, a pureza e a certeza de que o bem deve ser praticado e o mal, combatido. Eu, particularmente, tenho sempre em mente aqueles dias em que, quando criança, confiava na outra sem hesitação. Não havia mal, apenas peraltices.

            Infelizmente, não permanecemos crianças para sempre. Crescemos e viramos adultos. Como diz o dito popular, “caímos na real”. No entanto, de alguma forma, aquela alma de criança, a inocência e o desejo de brincadeira nos acompanham vida afora. Da mesma maneira, ficam o senso de justiça e a esperança de ver o mundo como um lugar melhor, tal como aprendemos com nossos heróis, pais e mães. E quanto aos vilões? Assim como no cinema, no enredo da vida os vilões também nunca saem de cena e sempre aparecem para atacar e tentar ferir. São maus.

            A greve deflagrada na Bahia é uma guerra da bondade contra a maldade e o episódio me faz lembrar uma lição posta na trama do Homem-Aranha. O tio Ben diz ao sobrinho Peter Parker: quanto maior o poder de um homem, maior é a sua responsabilidade sobre os outros. Este é um princípio moral e político que tem sido negligenciado pelos representantes do executivo, legislativo e (pasmem!) pelo judiciário do estado da Bahia (TJ). Uma lei agressiva, autoritária e sem precedentes (Lei 12.578/12), aprovada pelo legislativo baiano e o não cumprimento da Lei do Piso da Educação (22,22%), encaminhada pelo governo federal afetam não apenas professores, mas a sociedade como um todo. Vivemos uma situação drástica! Por isso a greve.

           Onde está o herói para nos salvar? Somos apenas professores com almas de crianças, lutando para que o ataque do mal não abra feridas profundas. Na greve, atuamos como escudos protetores, defendendo um golpe que atinge de forma pungente todo o conjunto da sociedade, principalmente o seu futuro. Será que somos os heróis?! Não sei ao certo. O que sei é que lutamos como o Homem-Aranha, para que nossas crianças e adultos continuem sonhando com um mundo melhor e com um futuro radioso. Lutamos, principalmente, para preservar A CRIANÇA que insistimos em carregar no interior das nossas heroicas almas.

         Pra finalizar sem final feliz, mas com esperança, cito um filósofo-professor chamando Friedrich Nietzsche quando previne: “Cuidado para que no percurso da batalha não te tornes o monstro que combates”. Por acaso foi isso o que ocorreu com os saudosos defensores dos trabalhadores? No poder, no entanto derrotados por seus monstros, agora investem contra os seus. Saberão como sabia o filósofo-professor Immanuel Kant que “a inumanidade que se causa a um outro, destrói a humanidade em mim”?

        Ainda há tempo, governantes: encurralem seus vilões interiores, matem o monstro! Resgatem suas crianças interiores, sejam heróis! Ou não tarda e nós já seremos os HERÓIS.


Profº Caio César. Sociólogo. Mestre em Linguagens e Práticas Sociais. Graças aos sacrifícios dos pais, professores e heróis, como também às oportunidades oferecidas pelo ensino público que precisa ser de qualidade. Não é fácil se educar no Brasil, mas é possível.

3 comentários:

Adriana disse...

Sinto que não existe ninguém para defender a ordem e a justiça em nosso país. Se não podem seguir as leis por que as propõe? Lutamos para conseguir aprovação, legalização, da Lei do Piso do magistério. Viva conseguimos, viva somos valorizados, viva professor neste país ainda pode sonhar com um salário mais digno ... mas, em 2012 disseram que professor com magistério não vale nada, somente um auxilio por serviços prestados; que concurso público é pouco e que precisamos de curso para saber ensinar, mas temos que pagar com – 7% do que merecemos (os 15% da certificação); que temos de agradecer pela antecipação salarial de 2013 e 2014 por sermos compatriotas, lê-se idiotas, e adivinharmos – com nossa bola de cristal, lê-se livros, jornais, tv que não podemos comprar o suficiente – que o governo não poderá pagar “reposição” nestes anos; e lembrando que tem professores que merecem e outros não estas bondades. A luta continua, e quem será por nós?
Se o Senhor é por nós, quem será contra nós? (Rom. 8:31)

Juliana Brito disse...

Caio, me lembrei da minha infância, de como brincava no quintal com meus irmãos. Naquela época nos travestíamos de heróis,podíamos voar, ficar invisíveis e tudo o mais.Me lembrei também que uma das minhas brincadeiras preferidas era a de professora. Meu filho não consegue entender isso, talvez porque veja em seus mestres apenas a figura da repressão e controle. Tento me justificar e ele me pergunta: "Mãe, porque não muda de emprego?"...
Ao ler sobre heróis e vilões, me lembrei também de como na Universidade aprendi que não somos sacerdotes e "infeliz do povo que precisa de heróis". No entanto, creio que a tua reflexão chama a nossa atenção para SERMOS OS HERÓIS, e não ficarmos esperando que O Herói venha nos salvar. Pensar a nossa ação e perseverança como algo que inspire é muito bom...É aquela velha história: "Sonho que se sonha só, é só um sonho. Sonho que se sonha junto, é realidade". Valeu!

Caio disse...

Olá Adriana e Juliana... por outro lado essa greve revelou aspectos que insistiam em permanecer ocultos. Um desses aspectos é a vocação autoritária do executivo brasileiro e, por tabela, o radical exemplo baiano. Outro aspecto é a capacidade de mobilização que a classe dos professores ainda dispõe nesse país.

Abraços fraternos.

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