SOBRE PROFESSORES,
CRIANÇAS, VILÕES E HERÓIS
Por: Caio César
Hoje,
ao sair do cinema, depois de assistir ao filme O Espetacular Homem Aranha, fui tomado por um súbito sentimento de
esperança, mas também por um corrosivo desejo de justiça. O Homem-Aranha é um
herói que marcou minha imaginação desde tenra idade. O poder de lançar teias
através de arranha-céus e casas, a habilidade acrobática de driblar os inimigos
e o senso selvagem de praticar a justiça, fisgou-me. Os heróis têm uma grande
facilidade de penetrar o sentimento das crianças e, por meio deles, aprendemos
que os vilões e suas maldades devem ser combatidos.
Nossos
pais também são como heróis e com eles acolhemos os principais exemplos para
pautar nossas condutas. Como primeiros professores, ensinam-nos o ABC da vida.
Pais e mães de boas índoles educam os filhos para a vida em sociedade,
estabelecendo parâmetros e limites em torno dos quais os futuros cidadãos
deverão atuar em prol de um futuro esperançoso.
Todos,
um dia, já foram crianças e, certamente, lembram dos bons tempos de
brincadeiras e alegrias. Todos lembram e ainda carregam em algum lugar dentro
de si a inocência, a pureza e a certeza de que o bem deve ser praticado e o
mal, combatido. Eu, particularmente, tenho sempre em mente aqueles dias em que,
quando criança, confiava na outra sem hesitação. Não havia mal, apenas
peraltices.
Infelizmente,
não permanecemos crianças para sempre. Crescemos e viramos adultos. Como diz o
dito popular, “caímos na real”. No entanto, de alguma forma, aquela alma de
criança, a inocência e o desejo de brincadeira nos acompanham vida afora. Da
mesma maneira, ficam o senso de justiça e a esperança de ver o mundo como um
lugar melhor, tal como aprendemos com nossos heróis, pais e mães. E quanto aos
vilões? Assim como no cinema, no enredo da vida os vilões também nunca saem de
cena e sempre aparecem para atacar e tentar ferir. São maus.
A
greve deflagrada na Bahia é uma guerra da bondade contra a maldade e o episódio
me faz lembrar uma lição posta na trama do Homem-Aranha. O tio Ben diz ao
sobrinho Peter Parker: quanto maior o
poder de um homem, maior é a sua responsabilidade sobre os outros. Este é
um princípio moral e político que tem sido negligenciado pelos representantes
do executivo, legislativo e (pasmem!) pelo judiciário do estado da Bahia (TJ).
Uma lei agressiva, autoritária e sem precedentes (Lei 12.578/12), aprovada pelo
legislativo baiano e o não cumprimento da Lei do Piso da Educação (22,22%),
encaminhada pelo governo federal afetam não apenas professores, mas a sociedade
como um todo. Vivemos uma situação drástica! Por isso a greve.
Onde
está o herói para nos salvar? Somos apenas professores com almas de crianças,
lutando para que o ataque do mal não abra feridas profundas. Na greve, atuamos
como escudos protetores, defendendo um golpe que atinge de forma pungente todo
o conjunto da sociedade, principalmente o seu futuro. Será que somos os heróis?!
Não sei ao certo. O que sei é que lutamos como o Homem-Aranha, para que nossas
crianças e adultos continuem sonhando com um mundo melhor e com um futuro
radioso. Lutamos, principalmente, para preservar A CRIANÇA que insistimos em
carregar no interior das nossas heroicas almas.
Pra
finalizar sem final feliz, mas com esperança, cito um filósofo-professor
chamando Friedrich Nietzsche quando previne: “Cuidado para que no percurso da batalha não te tornes o monstro que
combates”. Por acaso foi isso o que ocorreu com os saudosos defensores dos
trabalhadores? No poder, no entanto derrotados por seus monstros, agora
investem contra os seus. Saberão como sabia o filósofo-professor Immanuel Kant
que “a inumanidade que se causa a um outro, destrói a humanidade em mim”?
Ainda
há tempo, governantes: encurralem seus vilões interiores, matem o monstro!
Resgatem suas crianças interiores, sejam heróis! Ou não tarda e nós já seremos
os HERÓIS.
Profº Caio César.
Sociólogo. Mestre em Linguagens e Práticas Sociais. Graças aos sacrifícios dos
pais, professores e heróis, como também às oportunidades oferecidas pelo ensino
público que precisa ser de qualidade. Não é fácil se educar no Brasil, mas é
possível.
3 comentários:
Sinto que não existe ninguém para defender a ordem e a justiça em nosso país. Se não podem seguir as leis por que as propõe? Lutamos para conseguir aprovação, legalização, da Lei do Piso do magistério. Viva conseguimos, viva somos valorizados, viva professor neste país ainda pode sonhar com um salário mais digno ... mas, em 2012 disseram que professor com magistério não vale nada, somente um auxilio por serviços prestados; que concurso público é pouco e que precisamos de curso para saber ensinar, mas temos que pagar com – 7% do que merecemos (os 15% da certificação); que temos de agradecer pela antecipação salarial de 2013 e 2014 por sermos compatriotas, lê-se idiotas, e adivinharmos – com nossa bola de cristal, lê-se livros, jornais, tv que não podemos comprar o suficiente – que o governo não poderá pagar “reposição” nestes anos; e lembrando que tem professores que merecem e outros não estas bondades. A luta continua, e quem será por nós?
Se o Senhor é por nós, quem será contra nós? (Rom. 8:31)
Caio, me lembrei da minha infância, de como brincava no quintal com meus irmãos. Naquela época nos travestíamos de heróis,podíamos voar, ficar invisíveis e tudo o mais.Me lembrei também que uma das minhas brincadeiras preferidas era a de professora. Meu filho não consegue entender isso, talvez porque veja em seus mestres apenas a figura da repressão e controle. Tento me justificar e ele me pergunta: "Mãe, porque não muda de emprego?"...
Ao ler sobre heróis e vilões, me lembrei também de como na Universidade aprendi que não somos sacerdotes e "infeliz do povo que precisa de heróis". No entanto, creio que a tua reflexão chama a nossa atenção para SERMOS OS HERÓIS, e não ficarmos esperando que O Herói venha nos salvar. Pensar a nossa ação e perseverança como algo que inspire é muito bom...É aquela velha história: "Sonho que se sonha só, é só um sonho. Sonho que se sonha junto, é realidade". Valeu!
Olá Adriana e Juliana... por outro lado essa greve revelou aspectos que insistiam em permanecer ocultos. Um desses aspectos é a vocação autoritária do executivo brasileiro e, por tabela, o radical exemplo baiano. Outro aspecto é a capacidade de mobilização que a classe dos professores ainda dispõe nesse país.
Abraços fraternos.
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